Ei, fique atento: os perigos da automedicação são reais e podem gerar sérias complicações para a sua saúde. As informações a seguir sobre o Cloridrato de Memantina não substituem o acompanhamento cuidadoso do médico e do farmacêutico no tratamento.
Quando o assunto é o Alzheimer, é importante ter em mente: aqui, o tratamento visa diminuir a velocidade de avanço da demência e preservar as funções cognitivas pelo máximo tempo possível. Apesar dos benefícios limitados, o uso de medicamentos é uma ferramenta-chave no tratamento, auxiliando na convivência com os sintomas da doença.
Nesse sentido, a escolha da abordagem medicamentosa é feita com base na classificação de estágios de progressão da condição. No quadro moderado a grave, pode-se indicar o uso de Cloridrato de Memantina, com ou sem o uso de outros remédios associados.
Vale destacar que o tratamento com medicamentos no Alzheimer é temporário e precisa ser revisado para avaliar a possibilidade de interrompê-lo. Continue a leitura e tire suas dúvidas sobre a Memantina!
Cloridrato de Memantina: para que serve?
A Memantina é indicada nos casos de Alzheimer com sintomas de intensidade moderada a grave, e visa desacelerar a progressão da doença. O medicamento está disponível como comprimido revestido ou orodispersível (que se dissolve rapidamente na boca).
O remédio também tem resultados positivos no tratamento de outras demências: o Alzheimer (DA) é o tipo de demência mais comum no mundo, mas há ainda a demência vascular, a mista, demência com corpos de Lewy e a decorrente da doença de Parkinson, entre outras.
O Cloridrato de Memantina pode, ainda, ser usado para proteger o cérebro de pacientes que estão passando por tratamento de radioterapia contra um câncer no órgão, combatendo complicações e lesões.
*Afinal, o que é a demência?
A demência é um conjunto de sintomas que não têm cura e, na maioria dos casos, se agravam com o tempo: isso se reflete em piora da memória/capacidade de raciocínio, mudanças no comportamento e comprometimento da capacidade de realizar atividades da vida diária, com prejuízo na qualidade de vida do paciente e da família.
É importante ressaltar que a demência é um quadro diferente da depressão e do delirium (estado agudo/pontual de confusão mental). É mais comum em idosos, mas nunca deve ser tratada como uma “parte normal” do envelhecimento – mas sim devidamente investigada e acompanhada.
Principais nomes comerciais: como o medicamento é encontrado nas farmácias?
No mercado, a versão genérica é encontrada como “Cloridrato de Memantina”, mesmo nome do princípio ativo da composição. Vale acrescentar que os genéricos são produzidos da mesma forma que os “originais”, sendo idênticos ao medicamento de referência em composição, forma de uso e prazo de validade.
No Brasil, o medicamento de referência é chamado “Ebix”, que é produzido pelo laboratório que que desenvolveu a fórmula originalmente.
Os similares disponíveis são Maizher, Mealz, Moriale ODT, Zider, Heimer, Alois, Desirée, Memorall, Alz, Vie e Kamppi. Os remédios similares têm um nome de marca, contém o mesmo princípio ativo, dose e indicação de uso do de referência, mas podem não ser sua cópia idêntica (contendo algumas diferenças como a forma farmacêutica). Desde 2014, a Anvisa exige que todos os similares passem por testes de equivalência para comprovar que eles são tão seguros e eficazes quanto os de referência.
🚨 Atenção!
O princípio ativo Memantina é encontrado na forma de comprimido revestido, comprimido orodispersível e solução oral. Converse com seu médico e tire suas dúvidas com o farmacêutico para ter certeza de que está levando o remédio conforme foi receitado!
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Cloridrato de Memantina: mecanismo de ação
Para entender a atuação da Memantina no organismo, primeiro precisamos compreender o que são os neurotransmissores: trata-se de substâncias químicas usadas pelas células do sistema nervoso para se comunicarem. Eles desempenham um papel importante na regulação de funções como humor, bem-estar, compreensão e memória.
Quando um neurônio libera neurotransmissores, eles são captados por receptores presentes na superfície de outras células. Isso é um processo essencial que acontece constantemente de forma natural em nosso corpo.
Um desses neurotransmissores é o glutamato, que é um ativador das células nervosas. Na doença de Alzheimer, o excesso de sua atividade leva à superestimação e posterior morte dos neurônios. Nesse sentido, a Memantina age como um neuroprotetor, ligando-se ao receptor e não ao glutamato, impedindo sua união. Em outras palavras, a Memantina regula a ação do glutamato.
*Importante lembrar: o medicamento atua como um bloqueador apenas em situações de estimulação excessiva, não afetando a transmissão normal dos neurotransmissores!
Cloridrato de Memantina: efeitos colaterais
Como todo medicamento, a Memantina pode eventualmente causar reações adversas em uma parcela dos pacientes. Em sua maioria, essas reações são leves, sem complicações e podem desaparecer ao longo do tratamento. É um remédio testado, efetivo e seguro!
As reações adversas mais comuns são:
- Diarreia;
- Constipação;
- Tontura;
- Dor de cabeça;
- Aumento da pressão.
Cloridrato de Memantina precisa de receita?
Sim! A Memantina é um medicamento psicotrópico, ou seja, uma substância que exerce sua ação principalmente no sistema nervoso central. Conforme a determinação da ANVISA, todas essas substâncias devem ser vendidas sob prescrição médica, em duas vias, com retenção de receita, que deve estar devidamente preenchida.
É exigida a receita azul ou branca?
Receita branca. Como a Memantina não é uma substância capaz de causar dependência física e efeitos de abstinência (diferente de outros medicamentos controlados), não cabe o uso do receituário azul.
Quais são as contraindicações?
Somente pessoas com alergia à Memantina ou a qualquer componente da formulação.
Qual é a classe farmacológica do medicamento?
O Cloridrato de Memantina é da categoria antagonista do receptor N-Metil-D-Aspartato (NMDA).
Um antagonista é uma substância que bloqueia ou impede a ação de um receptor específico no organismo. Os receptores são como “fechaduras” localizadas nas células do nosso corpo, e quando uma “chave” (um neurotransmissor ou uma substância química) se encaixa nessa fechadura, ela desencadeia uma resposta ou um efeito.
Porém, um antagonista de receptor age como uma “chave falsa” que bloqueia a entrada da chave verdadeira. Dessa forma, o neurotransmissor não pode se encaixar no receptor, e a porta permanece fechada, impedindo a resposta ou o efeito que normalmente ocorreria.
👉 No caso específico da Memantina, o medicamento bloqueia um receptor específico para impedir sua ligação ao neurotransmissor glutamato, cuja atividade excessiva está relacionada à morte dos neurônios e desenvolvimento da doença de Alzheimer.
Tem Cloridrato de Memantina pelo SUS?
Desde 2010, a Memantina está na RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), uma lista elaborada pelo Ministério da Saúde do Brasil que contém os medicamentos considerados essenciais para atender às necessidades básicas de saúde da população e que são oferecidos nas linhas de cuidado do SUS.
No documento, consta o medicamento na apresentação de comprimido de 10 mg. Contudo, a disponibilidade da Memantina pelo SUS é variável conforme o município, uma vez que ele está alocado na categoria “componente especializado”.
Você sabia?
A disponibilidade e o acesso aos medicamentos de componente especializado podem variar de acordo com a organização do sistema de saúde de cada estado ou região. Em alguns casos, o posto de saúde pode ter um estoque limitado do remédio para atender às necessidades da população ou mesmo não o possuir.
Em geral, esses medicamentos são fornecidos no SUS principalmente por farmácias estaduais, centros de referência ou unidades especializadas, que possuem uma estrutura mais adequada para o armazenamento, controle e dispensação desses remédios.
Memantina dá sono?
Cerca de 3% das pessoas em uso de Memantina podem, sim, apresentar aumento de sonolência.
Entretanto, mesmo nesses casos, as manifestações costumam ser leves e sem complicações, podendo desaparecer durante o uso.
Memantina e autismo: existe indicação?
O autismo é uma condição sem uma resolução definitiva: seu manejo tem como objetivo levar as pessoas no espectro autista à independência e aumento da qualidade de vida (com melhora nas habilidades de comunicação e adaptação).
Contudo, as melhores evidências científicas disponíveis não trazem a indicação de uso da Memantina com resultados positivos e segurança nesses casos.
As maiores referências no assunto, Comportamento Agressivo no Transtorno do Espectro do Autismo (Ministério da Saúde, 2022) e Autism the nice guideline on the management and support of children and young people on the autism spectrum (The National Institute for Health and Care Excellence, 2021) não definem em nenhum momento em seus documentos oficiais a Memantina como uma alternativa terapêutica.
E quanto à Memantina para demência vascular?
Alguns médicos podem optar pelo uso da Memantina em pacientes com demência vascular por não conseguirem descartar a hipótese de doença de Alzheimer, sendo frequente que as duas doenças se apresentem juntas. Entretanto, alguns especialistas se posicionam contra o uso porque as evidências científicas do seu benefício não são convincentes.
A demência vascular é diagnosticada quando há histórico prévio de doenças vasculares/AVC e o paciente passa a apresentar deterioração cognitiva progressiva e gradual, com exame de imagem evidenciando alterações neurológicas focais.
O esquema de tratamento da Memantina, tanto na doença de Alzheimer, quanto na demência vascular, é similar.
Fique de olho: cuidados gerais para o uso do medicamento
É fundamental ter em mente que a terapia medicamentosa utilizada no Alzheimer é de caráter temporário e requer uma revisão periódica para considerar a possibilidade de interrompê-la.
Recomenda-se a avaliação cognitiva por um profissional de saúde habilitado, avaliando os resultados funcionais nas atividades de vida diária.
Além dos medicamentos: terapia não farmacológica e cuidados de suporte nas demências como o Alzheimer
- Investir em acompanhamento nutricional: em estágios avançados da demência, é frequente que os pacientes se alimentem menos, o que está associado a um aumento de complicações;
- Evitar o uso de álcool: pacientes com demência podem beber em excesso porque perdem a noção de quantas bebidas foram consumidas. O álcool piorar a disfunção cognitiva e distúrbios comportamentais;
- Terapia ocupacional e fisioterapia especializadas: essas práticas auxiliam no fortalecimento muscular, na manutenção da mobilidade e no equilíbrio do paciente, o que contribui para prevenir quedas e melhorar a qualidade de vida.
E aí, tirou suas dúvidas sobre o Cloridrato de Memantina? Esperamos que sim! Continue a acompanhar a Far.me aqui no blog, no Instagram e no Facebook para mais conteúdos sobre o universo farmacêutico!