Entre as cores de tarjas de medicamentos, a mais conhecida é sem dúvidas a chamada tarja preta, uma classificação cercada de dúvidas e mitos. De todo modo, uma coisa é certa: o uso desses remédios só cresce no Brasil. Segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), a venda desses fármacos aumentou 22% só em março e abril de 2020, comparado ao mesmo período de 2019.
Assim como os de tarja vermelha, os medicamentos tarja preta são considerados de uso controlado e exigem prescrição médica devido aos possíveis riscos e efeitos adversos. Mas quais remédios compõem essa lista e no que eles se diferenciam das outras tarjas? Quais os riscos envolvidos? Quais as indicações?
Continue a leitura e confira tudo o que você precisa saber sobre essa classificação do universo farmacêutico!
Remédio tarja preta: o que é?
Os medicamentos tarja preta são aqueles que representam maior risco para o consumidor, e por isso demandam um controle mais rigoroso por parte do Ministério da Saúde.
Uma vez que atuam no sistema nervoso central, esses remédios são classificados como “psicotrópicos” – além de alterar os padrões mentais, emoções e comportamentos, podem causar dependência nos usuários.
Não por acaso, além da indicação visual preta, as embalagens contam com um aviso: “Venda sob prescrição médica, o abuso deste medicamento pode causar dependência”. Os riscos, aqui, também são associados aos possíveis efeitos adversos e contraindicações, o que torna o acompanhamento profissional tão essencial para o tratamento responsável.
Vale destacar que os remédios de tarja preta exigem prescrição para compra e a retenção da receita na farmácia.
Tarjas de medicamentos: entenda a classificação
Certo, explicamos o que são os remédios de tarja preta, mas e quanto às outras cores? Qual é o objetivo desses sinais visuais no mercado?
Vamos lá: as diferentes tarjas existem para indicar a classificação de venda dos medicamentos.
Grau de risco para o paciente, necessidade ou não de receita médica, retenção da prescrição na farmácia: tudo isso fica sinalizado na faixa preta, vermelha ou amarela das embalagens. É importante lembrar, ainda, dos remédios que não têm nenhuma tarja – os chamados MIPs. Confira:
- Tarja preta: como vimos, são os medicamentos psicotrópicos, de maior risco e com potencial de causar dependência. Exigem receita e retenção da prescrição para compra.
- Tarja vermelha: trata-se dos medicamentos de risco intermediário, como os antibióticos. Assim como os de tarja preta, são considerados de uso controlado. Exigem receita médica e, a depender do remédio, a retenção da prescrição na farmácia.
- Tarja amarela: são os famosos genéricos, também identificados com uma letra “G” para diferenciá-los dos remédios similares e de referência. Vale lembrar que os genéricos também podem estar sinalizados com as tarjas preta ou vermelha, se for o caso!
- Medicamentos sem tarja: são os chamados MIPs (medicamentos isentos de prescrição). Usados para tratar sintomas simples – como azia ou dor de cabeça-, eles não precisam de receita médica e podem ser comprados livremente na farmácia. Mas fique atento: o uso abusivo é prejudicial e deve ser evitado. Conte com a orientação do farmacêutico!
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Quais são os remédios de tarja preta?
Os remédios de tarja preta mais conhecidos são aqueles utilizados para tratar a ansiedade e a depressão: os ansiolíticos e antidepressivos. Em se tratando do Brasil, vale a pena resgatar um dado um tanto relevante: nosso país é o que mais tem casos das doenças em toda a América Latina.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% da população brasileira sofre com depressão e 9,3% têm o diagnóstico de ansiedade. Essa demanda, é claro, se reflete no aumento do uso de medicamentos tarja preta, que muitas vezes representam um elemento importante do tratamento.
Além dessas classes, os remédios ditos “sedativos” também são classificados como de tarja preta. Atuando no sistema nervoso central, esses medicamentos induzem um efeito calmante nos usuários, podendo gerar dependência.
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Ansiolíticos
Indicados para distúrbios mentais como o transtorno da ansiedade generalizada (TAG), o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e a própria depressão, os ansiolíticos têm efeito calmante ao regular a comunicação entre os nossos neurotransmissores, aliviando a tensão e proporcionando maior qualidade de vida.
É interessante destacar que, aqui, os principais medicamentos utilizados são os chamados benzodiazepínicos, que têm um cunho sedativo e tranquilizante no cérebro. Sua administração pode causar dependência e exige o correto acompanhamento médico.
Antidepressivos
Como os ansiolíticos, os antidepressivos também atuam no sistema nervoso central e no equilíbrio dos famosos neurotransmissores (que são como pequenos mensageiros na comunicação entre os neurônios).
É comum, vale ressaltar, que pessoas com depressão apresentem uma deficiência ou desequilíbrio nesses “mensageiros” cerebrais, incluindo a serotonina, a dopamina e a noradrenalina.
Nesse contexto, os antidepressivos entram em cena para aumentar a disponibilidade dos neurotransmissores no cérebro, tratando a condição e aumentando o bem-estar. É importante acrescentar que a depressão não é o único transtorno que se beneficia da terapêutica desses remédios tarja preta – ansiedade, vícios e distúrbios do sono são outros exemplos de indicação.
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Sedativos
Por sua vez, os sedativos são os medicamentos tarja preta que agem para deprimir a atividade do sistema nervoso ou o nível de vigilância do cérebro – por isso, são úteis para aliviar os estados de excitação excessiva.
No cunho popular, são conhecidos como “calmantes”. Exemplos de sedativos são os tranquilizantes menores (ataráxicos), os que atuam como antiepilépticos e os hipnóticos, que promovem sonolência e são indicados para tratar distúrbios do sono.
Esses remédios podem, ainda, serem prescritos para alívio da dor (ação analgésica).
Os medicamentos tarja preta mais conhecidos
Exemplos de remédios tarja preta muito utilizados e conhecidos pelo público são:
- Lexotan;
- Clonazepam (Rivotril);
- Ritalina;
- Fenobarbital;
- Fluoxetina;
- Alprazolam;
- Sulfato de morfina;
- Bromazepam;
- Olcadil.
Uso controlado: qual a diferença entre a tarja preta e a tarja vermelha?
Se você ficou atento à explicação sobre as tarjas nas embalagens, é provável que já tenha tirado essa dúvida…
De fato, tanto os remédios de tarja preta, quanto vermelha são considerados “de uso controlado”.
No entanto, na classificação, a tarja vermelha se insere como um nível aquém da tarja preta, representando riscos menores em termos de dependência e possíveis efeitos colaterais. Apesar dessa diferença, os medicamentos de ambas as tarjas exigem receita médica para compra, além de muito cuidado e orientação profissional ao longo do uso.
Principais indicações: para que serve o remédio tarja preta?
Em geral prescritos por médicos psiquiatras, esses remédios são recomendados para uma ampla gama de transtornos da ordem mental, a exemplo de:
- transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
- depressão;
- esquizofrenia;
- TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade);
- síndrome do pânico;
- transtorno obsessivo compulsivo (TOC);
- transtorno de personalidade;
- fobias diversas;
- insônia e outros distúrbios do sono;
- transtornos de humor.
Principais efeitos adversos
A tarja preta e o aviso nas embalagens dos medicamentos não são por acaso: sem supervisão, o uso desses remédios pode trazer graves efeitos adversos e riscos à saúde.
Vale reforçar, entretanto, que algumas reações são comuns no período de adaptação e tendem a desaparecer após as primeiras semanas. Siga sempre as recomendações do seu médico e esclareça suas dúvidas com o profissional ou o farmacêutico!
Nessa perspectiva, alguns dos principais efeitos adversos desse tipo de medicamento podem incluir:
- sonolência;
- tonturas/vertigem;
- dor de cabeça;
- enjoo;
- suor excessivo;
- euforia;
- alterações no metabolismo, com ganho ou perda de peso;
- prejuízos cognitivos, afetando a memória, a concentração ou a atenção;
- possível dependência física, mental e/ou química.
Como evitar a dependência gerada pelos remédios de tarja preta?
O uso dos medicamentos tarja preta sem orientação médica é uma das principais razões para a geração de dependência. Administrados de forma indiscriminada, prolongada e contínua, esses remédios podem fazer com que o organismo se “acostume” com a fórmula, de modo que doses cada vez maiores sejam necessárias.
Nesse sentido, a principal recomendação para evitar esse grave efeito adverso – e para assegurar um tratamento eficaz e responsável – é fazer o adequado acompanhamento médico, incluindo a obtenção de uma prescrição individualizada e pensada para cada caso e suas necessidades. Com a saúde não se brinca!
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Conclusão
De importância-chave para o tratamento de diversos transtornos mentais, os medicamentos tarja preta exigem uma dose ainda maior de cautela e responsabilidade na administração, especialmente porque o tempo de uso tende a ser prolongado para gerar os resultados esperados (mínimo de 6 meses ou mais).
Vale reforçar, ainda, que o tratamento medicamentoso muitas vezes faz parte de uma terapêutica global que envolve psicoterapia e um estilo de vida saudável, essenciais para a qualidade de vida e o bem-estar do paciente.
Seguir as recomendações do especialista no dia a dia é fundamental e abrange respeitar os horários corretos, evitar o esquecimento das doses e tomar nota de possíveis efeitos adversos que podem ser discutidos com o médico ou o farmacêutico.
Esperamos que as informações sejam úteis! Para mais conteúdos sobre o universo dos medicamentos e saúde em geral, fique de olho nas atualizações do blog. Até a próxima!